Considero o Museu dos Vestígios de Guerra, o ponto alto da nossa viagem a Ho Chi Minh. Não que seja a melhor coisa do mundo pra se ver, mas foi uma visita pedagógica, necessária para para conhecer mais da história da Guerra do Vietnã, em outra versão, a contada pelos vietnamitas.
O que você vai ler aqui, neste post:
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No segundo dia na cidade, logo cedo, fomos ao Museu dos Vestígios de Guerra, que trata das atrocidades realizadas na Guerra Americana, como os vietnamitas dizem. O museu, fundado em 1975, já se chamou Museu dos Crimes de Guerra Americano. Durante esse período, o país foi devastado por intensos bombardeios e conflitos armados, deixando um rastro de destruição e sofrimento entre a população vietnamita. Em pouco mais de 40 anos, recebe uma média de 1 milhão de visitantes, por ano. Hoje, ele mudou o nome. Certamente, para atender às novas realidades políticas do país.
O Museu dos Vestígios de Guerra foi criado para documentar e expor as atrocidades cometidas durante o conflito, além de homenagear as vítimas e destacar a resistência e determinação do povo vietnamita. Ao longo dos anos, o museu expandiu sua coleção para abranger outros períodos da história do Vietnã, bem como conflitos em outras partes do mundo.
Entre as principais exposições do Museu dos Vestígios de Guerra estão fotografias, artefatos, documentos e testemunhos que retratam os horrores da guerra, incluindo crimes de guerra, tortura, uso de armas químicas e impacto sobre a população civil.
Além de seu papel educativo e memorial, o museu também busca promover a conscientização sobre os efeitos devastadores da guerra e incentivar o diálogo pela paz e reconciliação entre nações. É um local de reflexão e aprendizado, que busca preservar a memória das gerações futuras e promover a valorização da vida e da paz.
Os números da guerra
A Guerra do Vietnã teve início em 1959, quando começaram os conflitos entre Vietnã do Norte – comunista apoiado pela China e pela União Soviética – e o Vietnã do Sul, que tinha o apoio dos Estados Unidos. E só terminou em 1975, quando os últimos militares saíram de Ho Chi Minh, que na época, chamava-se Saigon, de cabeça baixa. Se tem uma coisa da qual os vietnamitas se orgulham é de nunca terem perdido uma guerra.
Museu dos Vestígios de Guerra: as perdas
Nessa guerra, morreram mais de 58 mil americanos e mais de 2 milhões de vietnamitas. Os Estados Unidos lançaram mais de 6 milhões de toneladas de bombas sobre o Vietnã. Sobre os aliados do Vietnã do Sul, mais 1,4 milhão de toneladas. Mais de 1900 americanos continuam desaparecidos desde o fim da guerra. Assim, como 800 mil bombas e minas, que não foram explodidas e matam, até hoje, as pessoas que pisam nelas, sem querer. No museu, estão em exposição, mais de 20 mil documentos e filmes que retratam esses números estarrecedores.
Museu dos Vestígios de Guerra: a entrada
Pagamos 40 mil dongues, cada um, um pouco menos de 2 dólares, para ver uma das histórias mais sangrentas, mais violentas, acontecidas neste planeta. E saímos de lá com um nó na garganta, o coração apertando, de ver tanta atrocidade. Tenho a impressão de que o vietnamita foi o povo que mais sofreu, até hoje, nas mãos dos Estados Unidos.
Na área externa do museu
Logo na entrada, na área que cerca o museu, estão espalhadas verdadeiras relíquias de guerra: as armas e veículos usados por vietnamitas e americanos: aviões, helicópteros, tanques, metralhadoras e bombas, utilizados para matar milhões de pessoas. Estes veículos não só demonstram a intensidade e a escala do conflito, mas também servem como um poderoso meio de educação e reflexão sobre os custos humanos e materiais da guerra. O Museu dos Vestígios de Guerra é um local crucial para entender a complexidade da Guerra do Vietnã e o impacto duradouro que teve na região e no mundo.
Uma das peças mais notáveis é o tanque M48 Patton, usado pelo exército dos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã. Além deste, há também exemplos de tanques soviéticos fornecidos ao Vietnã do Norte, incluindo o T-54. Outro destaque é o F-5A Freedom Fighter, um jato que era parte da força aérea dos EUA. Outras aeronaves incluem o helicóptero UH-1 Huey, icônico por seu uso em missões de combate e resgate.
O museu também apresenta veículos blindados de transporte de tropas, como o M113, que foi amplamente utilizado pelo exército dos EUA para transporte de soldados e como apoio em combates terrestres. Diversas peças de artilharia também estão em exposição, incluindo canhões e lançadores de mísseis que foram usados tanto pelas forças vietnamitas quanto pelas americanas.
Museu dos Vestígios de Guerra: Gaiolas e tortura
O museu é grande, tem três andares e é muito bem dividido. No térreo, podemos ver o sistema americano de prisão, como os vietnamitas denominam. Como nos filmes, as gaiolas de arame farpado, minúsculas, para prender o inimigo, além de uma guilhotina, celas úmidas e escuras – um arsenal de maldades de nível altíssimo.
Quando entramos, mesmo, no salão térreo do museu, o que vemos são salas com equipes de apoio à resistência vietnamita, com projetos voltados para estudantes e crianças, além de um pequeno restaurante e uma lojinha.
Museu dos Vestígios de Guerra: crueldade compartilhada
À medida que vamos entrando no museu, vamos tendo noção da crueldade praticada durante a guerra. Cartazes, fotos e documentos comprovam as atrocidades, que se perpetuaram na vida dos vietnamitas. Interessante é observar os americanos – grande maioria dos turistas – vendo e lendo sobre aquilo tudo. Não sei se eu sentia vergonha, pena ou curiosidade. Afinal, aqueles americanos, que estavam ali, não tinham culpa das barbáries realizadas contra mulheres, velhos e crianças vietnamitas. Mas, os mais sensíveis, certamente, se sentem constrangidos.
Museu dos Vestígios de Guerra: a foto famosa
É nesse museu que está a célebre foto da garotinha nua, Kim Phuk, correndo, em desespero, quando foi registrada pelo fotógrafo Nick Ut. A foto ficou famosa, correu o mundo, mas outras tantas fotos de outras tantas crianças, na mesma situação, cobrem as paredes do museu. Fotos de gente de todas as idades, massacradas, sem cabeça, sem pernas ou braços. Fotos de gente – militares ou civis – sendo torturada e humilhada, desrespeitada.
As listas de nomes de crianças, de mulheres e de militares também são muitas.
Também são muitas, as histórias de família e casais sacrificados, como o da foto abaixo. Ele foi achado morto com a foto da namorada no bolso.
Os correspondentes
Abaixo, fotos de correspondentes de guerra, mortos durante o trabalho. Eram 133 correspondentes, de 11 nacionalidades. Eles deixaram 204 fotos sobre a guerra. Alguns, que sobreviveram, ainda voltaram ao Vietnã, para registrar o estrago, as consequências do destempero humano.
Numa das salas do museu, estão as armas usadas na guerra
Cartazes assustadores
Na entrada de cada sala, está registrado o massacre que foi a Guerra do Vietnã. Nessa, em especial, estão as maiores atrocidades, o requinte de maldade, a covardia dos soldados, a tortura que os civis sofreram, com detalhes, em fotos estarrecedoras.
O agente laranja
Outra sala está dedicada ao agente laranja, um herbicida altamente tóxico, de efeitos devastadores na lavoura, que foi lançado por aviões americanos, para acabar com as florestas vietnamitas. Sem florestas, os vietcongues não teriam como se esconder durante os ataques. Os americanos pulverizaram mais de 40 milhões de litros de agente laranja e acabaram com as florestas, com os rios e com as gerações seguintes. Até hoje, mais de 40 anos depois da guerra, ainda nascem crianças com terríveis deformações e outros problemas sérios de saúde. Nessa sala, vimos fotos muito tristes, além de fetos deformados em recipientes transparentes. Considerei falta de respeito, se fotografasse o que eu vi. Até hoje, escrevendo sobre isso, eu me emociono.
O Museu de Vestígios de Guerra é um lugar vivo, embora fale de morte. Constantemente, ele promove entrevistas com testemunhas oculares da guerra, realiza palestras e seminários, recebe escolas e associações de vítimas do agente laranja, para debates. Vez por outra, reúne veteranos – vietnamitas e americanos – que confraternizam, brindam ao futuro e ao passado – que já passou. O propósito não é fomentar o ódio e sim, não deixar ninguém esquecer os horrores de uma guerra, o que ela pode fazer com um país, com um povo – não importa a nacionalidade.
Respostas de 6
Todo mundo deveria visitar um museu como esse para conhecer a crueldade das guerras.
Gustavo
Pode ter certeza! O mundo seria diferente!
Nossa, com certeza, Museu dos Vestígios de Guerra é o ponto mais alto da viagem. Odeio guerras, mas amo museus e acho muito bom museus que também retratam as guerras, seus horrores e consequências. É sempre um aprendizado daquilo que não se deve repetir.
Deyse, também não gosto de guerra, mas não dispenso um museu, não importa o tema. Acho que a gente precisa conhecer a história.
Quero muito conhecer o Vietnam. Acho que visitar um Museu com vestígios de Guerra deve entrar no roteiro. Uma maneira de aprender com erros passados.
Angela, esse museu é bem difícil de ver, muitas atrocidades… mas a gente aprende muito.