Sarajevo, Bósnia: 15 razões para visitar a cidade mais fascinante dos Balcãs

Sarajevo é a capital de um dos destinos mais surpreendentes do planeta, pode acreditar em mim. A gente não faz ideia, porque a Bósnia nos remete às lembranças da guerra, mas quando se chega lá, percebe-se os muitos motivos para visitar o país: a natureza exuberante é uma delas; o riquíssimo patrimônio histórico e cultural, a mistura pacífica e harmoniosa do ocidente com o oriente; e um povo muito simpático e hospitaleiro. Depois de passar por Kravice Falls, Medjugorje e Mostar, chegamos a Sarajevo, uma cidade apaixonante. E este post é sobre ela.

História

Há quase 2 mil anos, esse país é disputado por “gregos e troianos”, como se diz. Cercada por montanhas altíssimas e cortada por rios de águas transparentes, a Bósnia e Herzegovina impressiona. Sérvios, croatas, venezianos, húngaros e bizantinos já se apossaram de partes do território, que já foi invadido pelo Império Otomano e até se tornou uma província turca.

A história da Bósnia e Herzegovina é longa e sangrenta. Depois da Guerra Russo-Turca, que durou um ano e terminou em 1878, chegou a vez do Império austro-húngaro dominar a região, até que um estudante assassinou o herdeiro desse império, Frans Ferdinand e sua mulher, numa rua de Sarajevo, a capital do país, em 1914.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, cujo estopim teria sido este assassinato, o Reino da Iugoslávia anexou, em 1918, a Bósnia e Herzegovina – que se tornou independente em 1992. Logo em seguida, a Bósnia enfrentou uma guerra civil, de 1992 a 1995, que matou mais de 200 mil pessoas. Os cemitérios fazem parte da paisagem de Sarajevo e de outras cidades do país, assim como as marcas da guerra.

Bósnia e Herzegovina – Informações básicas

Trata-se de uma república localizada nos Bálcãs – uma região no sudeste da Europa – fronteira com a Croácia, Sérvia e Montenegro, e um pedacinho que avança na direção do Mar Adriático. A capital do país é Sarajevo e os mais de 3 milhões de habitantes têm três línguas oficiais: bósnio, croata e sérvio, mas segundo um guia croata, a língua é a mesma. Moeda: Ban.

Como chegar a Sarajevo

Não existem voos diretos do Brasil, mas as companhias aéreas Swiss, Lufthansa e Air France, entre outras, fazem o voo São Paulo – Sarajevo, com conexão. A nossa dica é fazer como a gente fez: alugar um carro na Croácia e chegar lá percorrendo as estradas lindíssimas e bem sinalizadas do país.

Nossa viagem

Nós chegamos à Bósnia e Herzegovina, depois de alugar um carro no aeroporto de Zagreb, capital da Croácia e percorrer, durante 15 dias, todo o litoral, até Dubrovnik. De Dubrovnik, seguimos para Sarajevo, com algumas paradas indispensáveis pelo caminho: Kravice Waterfalls, Medjugorje e Mostar. São 236 quilômetros de belas paisagens – montanhas, rios transparentes, vegetação abundante e recantos inesquecíveis. Houve uma guerra nesse país? Houve sim. Mas a beleza da natureza e o poder de regeneração, inclusive, das pessoas,  camuflou toda e qualquer marca que pudesse afastar quem chegasse. Muito pelo contrário. Nós, por exemplo, sentimo-nos acolhidos.

Renault Captur

Para acomodar com conforto os 5 viajantes, alugamos um Renault Captur – eu, João Miguel, minha irmã Claudia e meus sobrinhos, Gustavo e Guilherme. Na mala do carro couberam 4 malas (eu e João Miguel levamos apenas uma mala), além das cinco mochilas de cada um e uma sacola para a roupa suja. O conforto do carro, além do custo-benefício, contribuiu bastante para o sucesso da viagem. O Captur é seguro, tem estabilidade. Nós tivemos o patrocínio da concessionária Renovel para alugar o carro.

Para viajar pela Bósnia e Herzegovina, só é preciso da CNH válida por um ano, mas João Miguel resolveu levar a PID, que é a carteira de motorista internacional – apenas para evitar contratempos. O combustível era bem acessível, em torno de 1 euro, o litro. Hoje, está por volta de 1,37 euros.

A cidade de Sarajevo

A capital da Bósnia e Herzegovina é a maior cidade do país e é uma das mais importantes da península balcânica. Fundada em 1461 pelos otomanos, é conhecida como a Jerusalém da Europa e tem em torno de 600 mil habitantes – do mesmo tamanho de Aracaju, capital de Sergipe. Cercada por 5 montanhas dos Alpes Dináricos, a cidade é reconhecida pela tolerância e diversidade. Tem gente de burca, de mini saia, muçulmano rezando, sino da igreja tocando – tudo em harmonia.

Sarajevo tornou-se conhecida no mundo inteiro durante a guerra, que aconteceu entre 1992 e 1995, quando foi palco de um cerco brutal que durou quase quatro anos. O Cerco de Sarajevo foi um dos acontecimentos mais trágicos da Guerra da Bósnia, quando a cidade foi cercada pelas forças sérvias e os habitantes sofreram os bombardeios, a falta de alimentos e de água. O número de vítimas civis foi enorme e os cemitérios se espalham pela cidade, assim como os museus e memoriais que lembram a guerra e as suas consequências.

Sarajevo: onde se hospedar

O centro da cidade sempre é a minha localização preferida, principalmente, quando não se está motorizada. Este não era o nosso caso, mas ainda assim, é a melhor opção, na nossa opinião. Como éramos 5 pessoas, ficou muito mais em conta alugar um apartamento. Escolhemos o Apartment Cobanija, super espaçoso, com três quartos, limpíssimo, ar-condicionado e no centro da cidade.

Quanto tempo ficar em Sarajevo

Nós ficamos 3 dias, mas eu acho que com 5, você percebe melhor a cidade. Há muito o que ver, explorar e curtir. Além disso, a cidade e o país, de um modo geral, são bem acessíveis e a nossa moeda, lá, tem algum valor. A culinária é maravilhosa e as pessoas, muito simpáticas. Também há muito o que ver nas imediações, e algumas opções de bate e volta muito interessantes, como Mostar, Medjugorje e Cravice Waterfall.

Quando visitar Sarajevo

Nós fomos no final de junho e pegamos muito calor, em torno de 38 graus. Mas os meses mais quentes, mesmo, são julho e agosto. Janeiro é o mês mais frio do ano. Sem dúvida, a Primavera e o Outono são as melhores épocas para visitar Sarajevo e a Bósnia e Herzegovina, de um modo geral.

O que ver em Sarajevo

A capital da Bósnia e Herzegovina é ótima para caminhar. Bater perna é a melhor forma de conhecê-la. Nós começamos pelo centro da cidade, caminhando sem destino, parando apenas para experimentar o cafezinho típico, para beber água ou apreciar a beleza dos prédios, a arquitetura de Sarajevo, as marcas que a guerra deixou.

Bascarsija – Mercado Principal

Construída no século 15 por Isa-Bey Ishakovic, o fundador de Sarajevo, e Ghazi Husrev-Bey, que deixou um legado importante para a cidade, Bascarsija  também é conhecida como praça dos pombos. Este é o centro histórico e coração da cidade, a antiga área otomana, onde você pode conferir vários prédios históricos, lojas, bares, café, restaurantes, mesquitas e, no centro da praça, fica o Sebilj, uma fonte de madeira de estilo otomano, construída em 1753. No final do período otomano, havia 156 bicas e várias fontes de pedra construídas principalmente como doação. Esta fonte é um símbolo de Sarajevo.

Ponte Latina, pedaço da história mundial

Cortada pelo Rio Miljacka, Sarajevo tem 12 pontes. Uma delas é a Ponte Latina, um pedacinho importante da história do país, local onde o estudante sérvio Gavrilo Princip matou o herdeiro do trono do Império austro-húngaro, o Arquiduque Franz Fernand e sua mulher Sophie, a Duquesa de Hohenberg, em 28 de junho de 1914 – evento que deu início à Primeira Guerra Mundial. Por isso, a Ponte Latina é um dos pontos mais visitados da cidade.

Museu do Assassinato de Sarajevo

Do outro lado do local do assassinato, na Ponte Latina, havia um monumento dedicado a Franz Ferdinand e Sophie Hohenberg, pela Monarquia austro-húngara, que foi removido. Um ano depois da remoção, foi inaugurado este museu, que retrata o domínio austro-húngaro, o novo modo de vida, a arquitetura e o desenvolvimento.

Museu da História da Bósnia e Herzegovina

Mais de 300 mil peças compõem este museu fundado depois da Segunda Guerra Mundial. No início, tinha lugar na Biblioteca Nacional. Em 1963, ganhou um endereço próprio.

Museu de Crimes contra a Humanidade e Genocídio

Este museu impressiona quem visita. Em exposição, fotos, documentos, filmes, objetos de vítimas da guerra – dor e sofrimento, violência e morte. Tudo muito explícito para nos levar a pensar sobre o horror que é a guerra.

Mesquita Gazi Husrev-Beg

Esta é a mais importante mesquita da Bósnia e Herzegovina, além de ser uma obra-prima da arquitetura otomana. Construída em 1530, ela é composta de salas de oração, madrasa (escola), cozinha, biblioteca e sala de lavagem. Suas paredes são decoradas com a caligrafia árabe e no pátio de entrada, tem uma fonte de ferro para a lavagem ritualística antes de entrar. Seu minarete pode ser visto de longe. A mesquita fica em meio às ruas estreitas do bazar, cercada de lojas e bares, onde as pessoas se sentam à mesa, nas calçadas para apreciar o chá.

Catedral da Natividade da Mãe de Deus

A construção dessa igreja ortodoxa teve início em 1863, e contou com a doação de comerciantes sérvios de Sarajevo, além da participação do sultão otomano Absulaziz e do governante da Sérvia, o príncipe Mihailo Obrenovic. O iconóstase foi uma gentileza do czar russo, Alexandre II, que enviou artesãos especializados para as obras no interior da igreja.

Catedral do Coração de Jesus

Igreja católica e maior catedral do país. Construída em 1887 em estilo neogótico, ela guarda o corpo do primeiro bispo da cidade e o órgão de 1886, fabricado em Zagreb.

Muslihudin Cekrekcija – a Mesquita do Imperador

Construída no século 15, em madeira, ela chegou a ser totalmente destruída e reconstruída em 1565. Muslihudin Cekrekcija, que é Patrimônio Nacional da Bósnia, também foi danificada durante a Segunda Guerra Mundial e nas guerras dos anos de 1990. No cemitério ao lado, estão os túmulos de xeques, vizires e outras autoridades. Para visitá-la, temos que estar vestidos adequadamente: nada de short ou bermuda, joelhos e ombros devem estar cobertos e lenço na cabeça para as mulheres.

Prefeitura de Sarajevo – Vijecnica

Este prédio, que fica frente para o rio Miljacka e as montanhas, foi o projeto mais caro do império austro-húngaro, que contratou Alexander Wittek, um arquiteto perfeccionista, que não chegou a ver o final da obra. Inconformado com a pouca luz do auditório da prefeitura, ele acabou se suicidando, após um colapso nervoso. Em seu lugar, Ciril M. Ivekovic assumiu a obra e solucionou o problema com uma cúpula de vidro.

Durante o Cerco de Sarajevo, a prefeitura foi incendiada, junto com a Biblioteca Nacional e Universitária, que funcionava na Prefeitura. Quase 2 milhões de livros foram queimados, inclusive, livros raros, que tratavam de temas dos impérios otomano e austro-húngaro.

Museu Nacional da Bósnia e Herzegovina

Em estilo renascentista do início do século 20, este museu foi fundado em 1888 e é a mais antiga instituição cultural e científica de estilo ocidental moderno do país. A instituição reúne arte, história, arqueologia, etnologia, ciência natural e cultura, além de documentos importantes, como um manuscrito judaico medieval – uma cópia da Hagadá da Páscoa,  uma coleção de preceitos e tradições religiosas incluídas na ordem de oração do Pessach, o feriado que celebra a libertação dos judeus da escravidão egípcia.

Bezistan Gazi Husrev-beg

Este é o bazar coberto da cidade, também chamado de Old Bezistan e Great Bezistan, onde você encontra uma infinidade de coisas para comprar. De artigos de couro a joias, passando por roupas, sapatos e lembrancinhas. Trata-se de um monumento nacional, portanto, imperdível

Teatro Nacional de Sarajevo

Este é o lugar para assistir aos espetáculos de ópera, balé e teatro em Sarajevo. O lindo prédio foi inaugurado em 1889 e, no início, era apenas um local de diversão e convívio social, com apresentações esporádicas de espetáculos teatrais. O Teatro Nacional enfrentou todos os momentos difíceis e construiu uma história, cujo destaque é a contribuição cultural que deu à cidade.

Galeria Nacional da Bósnia

Fundada em 1946, esta galeria abriga mais de 6 mil obras de arte moderna e contemporânea, divididas em várias coleções: Coleção de arte da Bósnia e Herzegovina, Coleção Ferdinand Hodler, Coleção de Ícones e Arte Sacra, Coleção de Arte Iugoslava, Coleção Internacional de Doações, Coleção de Fotografia e Novas Mídias. Ela fica no centro de Sarajevo e fica aberta de segunda a sábado, das 10 às 20 horas. Trata-se da instituição museológica mais antiga e significativa da Bósnia e Herzegovina. Durante o período de guerra, de 1992 a 1995, a Galeria Nacional não parou suas atividades e, nesse período, chegou a organizar 42 exposições.

A noite em Sarajevo

Para nós, brasileiros, que andamos preocupados pelas ruas do nosso país, a segurança é sempre importante. Mas na capital da Bósnia e Herzegovina, nós nos sentimos muito seguros. Mesmo caminhando à noite, pelo centro, não sentimos o menor risco. Pelo contrário. Pessoas na rua, nas praças, nos bares e restaurantes, todos tranquilos.

Sarajevo é muito mais

A capital bósnia é uma cidade multicultural, onde sinagogas, mesquitas, igrejas ortodoxas e católicas convivem civilizadamente, onde a natureza exuberante convida os visitantes a experimentar as cachoeiras, as grutas, cavernas e lagos, a conhecer a fauna, a flora e montanhas, onde podemos ver as 4 estações do ano em um único dia, onde acontecem competições como o esqui alpino e nórdico, no inverno. Ainda quero muito voltar a Sarajevo com mais tempo, degustar a culinária local, conversar e trocar ideias com as pessoas, conhecer mais de perto o artesanato, enfim, mergulhar no cotidiano dessa cidade tão vívida, tão cheia de história, com tanto a ensinar e com tantas belezas naturais ao seu redor.