Se você acha que o cemitério é um lugar triste, eu concordo com você, embora esta não seja a melhor definição para o Cimitirul Vesel, melhor dizendo, Cemitério Alegre, localizado na comuna de Sapanta, Romênia, que visitamos em fevereiro de 2022. Abaixo, você vai saber tudo sobre este cemitério e por que ele é uma das atrações mais interessantes do país.
O que você vai ler aqui, neste post:
ToggleCemitério Alegre
Esta é a maior atração da cidade: um cemitério onde não se vê lápides frias, com fotos antigas do morto e epitáfios tristes. O Cemitério Alegre é um lugar diferente, colorido e pra cima. Daí, o seu nome. Cada túmulo do Cemitério Alegre é decorado com cruzes esculpidas em madeira de carvalho, no formato ortodoxo e com uma espécie de telhado. As cruzes são pintadas com várias cores, com predominância do azul – o azul de Sapanta, como ficou conhecido.
O Cemitério Alegre e os epitáfios
Nas cruzes, junto com o nome do morto e a pintura, estão os textos em romeno – os epitáfios, que são aquelas frases que homenageiam os mortos ou com as quais eles se despedem. Estão todas escritas em romeno. Ainda assim, é possível ter uma ideia do que se trata, uma vez que a pintura retrata o universo em que o morto viveu ou a causa da sua morte ou, ainda, um momento importante da sua vida – no campo, com a família, na profissão que abraçou, jogando baralho com os amigos, cantando, indo para a escola ou na guerra, enfim, cenas do cotidiano.
Textos em romeno
Os textos são de autoria do escultor e quando é possível entender, podemos ver que eles contam a história da pessoa enterrada ali, com poesia, graça ou ironia. Alguns deles são até indiscretos e falam de infidelidade e bebida. Para os romenos ou para quem fala a língua, é uma diversão percorrer o cemitério e fazer a leitura dos epitáfios. Quem não entende, como eu, diverte-se “lendo” as ilustrações do artista.
A história do Cemitério Alegre
Tudo começou com Stan Ioan Patras, que nasceu numa família de artesãos, em 1908. Aos 14 anos e órfão de pai, ele começou a trabalhar como artesão para a sustentar a família. Ele já tinha descoberto o talento para a escultura e fazia as cruzes para o cemitério da cidade. Aos poucos, foi aperfeiçoando a técnica. Começou a pintar as cruzes de azul e depois, passou a decorá-las com flores. Mais adiante, introduziu o texto e começou a esculpir cenas da vida do morto. Abaixo, uma foto do artista, do site Welcome to Romenia.
Em 1935, ele produziu a primeira cruz colorida, com a história do morto, do jeito que permanece até hoje. Depois disso, os pedidos se sucederam e, atualmente, são mais de 800 lápides coloridas que cobrem 90% do Cemitério Alegre.
A tradição por um fio
Em 1977, quando Stan Ioan Patras morreu, um dos seus alunos de marcenaria, Dimitru Pop Tincu, fez a lápide do escultor, onde foi reproduzido o epitáfio que ele já deixou pronto:
Desde muito pequenino
Stan Ion Patrash foi meu nome
Ouçam-me enquanto passam
Pois o que digo é verdade
Todos os dias da vida
Nunca mal eu desejei
Pois apenas fiz o bem
A todos quantos eu pude
Ai que mundo tão ruim
Em que viver foi tão duro
Não existe uma indicação de onde está a sepultura de Stan Ioan Patras, mas ela fica em frente à porta principal da Igreja Ortodoxa da Assunção, localizada no meio do Cemitério Alegre. Seu sucessor, Dumitru Pop Tincu, é o responsável por manter viva a tradição. Com a ajuda de alguns marceneiros, ele continua esculpindo as cruzes, pintando e escrevendo os textos.
Cemitério Alegre e a produção
As cruzes continuam sendo feitas à mão e levam uma média de 3 meses para ficarem prontas. Por ano, Dumitu produz até 40 cruzes – para a cidade, para o país e o resto do mundo.
Um lugar no Cemitério Alegre
Pessoas de todas as classes sociais estão sepultadas no Cemitério Alegre. Muita gente faz questão de que esta seja a sua última morada e ainda há lugar para muitos. Até os governantes comunistas do país tinham esse desejo. Um ex-chefe do partido comunista, por exemplo, conseguiu e, no seu epitáfio, junto com a pintura da cruz e do martelo, está escrito “Enquanto vivi, amei o Partido. E toda a minha vida, tentei ajudar as pessoas.” Sei…
Dimitru já reservou o seu espaço. A única preocupação dele é encontrar um substituto que reúna as qualidade de escultor, pintor e poeta. Ele já está treinando seus ajudantes, mas sabe que não pode ser qualquer pessoa.
Dica
Vale visitar a Casa Memorial Stan Ioan Patras, em Sapanta. A antiga casa do escultor, que fica a 200 metros do Cemitério Alegre, foi transformada em museu, onde estão expostas diversas esculturas em baixo-relevo pintadas por ele, além de objetos pessoais e documentos. No quintal, fica a oficina, onde seu trabalho tem continuidade. A Casa Memorial Stan Ioan Patras fica na Rua Principal, nº 445. As fotos abaixo são do site Experience Maramures. Mas adianto que a casa está um pouco mais velha que nesta foto.
Como a morte é vista em Sapanta
Os moradores da cidade não têm medo da morte e a consideram um portal para um mundo melhor. Essa visão da morte, na região, é secular, vêm dos primórdios, dos antigos cultos pagãos, que prometiam a imortalidade da alma. Por isso, celebrar os mortos não é uma coisa estranha ou mórbida para eles. Os mortos são lembrados com saudade e alegria.
Quanto custa visitar o Cemitério Alegre
O valor da entrada no Cemitério Alegre é simbólico: 10 lei, em torno de 12 reais. Esse dinheiro, além das doações, vai para a manutenção da Igreja da Natividade da Mãe de Deus (ou Igreja da Assunção), construída em 1886. A igreja é, assim como o Cemitério Alegre, colorida, cheia de grafismos, pinturas e mosaicos. Muitos fiéis vão à missa com seus trajes folclóricos tradicionais, nos domingos e feriados.
Localização
Como falamos no início do post, o Cemitério Alegre fica na comuna de Sapanta, na região de Maramures, a 20 minutos de carro de Sighetu Marmatiei, um importante centro turístico e cultural da região e a 680 quilômetros de Bucareste, capital da Romênia. Se você estiver de carro, é só colocar no GPS: Cemitério Alegre. Se chegar de ônibus, todo mundo vai saber lhe dizer onde fica. De qualquer forma, o endereço do cemitério é este: DN19, Sapanta 437305, Romênia.
Onde ficar
Sapanta é uma pequena comuna, com apenas 5 mil habitantes e oferece poucas opções de hospedagem, em geral, um quarto na casa de uma família – o que é uma experiência bem interessante, uma vez que as famílias são extremamente tradicionais e as casas são bem típicas da região. Mas tem opção de pousadas, sim. É só acessar o Bookim.com. As diárias são entre 150 e 200 reais, para duas pessoas. Outra opção é ficar em Sighetu Marmatiei, como nós fizemos. O hotel que escolhemos foi o Motel Perla Sigheteana. Tivemos a impressão de que era um hotel cigano, por causa da decoração. Ficou essa dúvida.
Quanto tempo ficar
Para conhecer o Cemitério Alegre e a Casa Memorial Stan Ioan Patraş, basta uma manhã e uma tarde. Mas a estada pode ser esticada se você quiser explorar as Igrejas de Maramures, tema do nosso próximo post.
Respostas de 24
Quanta cor, quanto detalhe!! Obrigado por compartilhar esse lugar maravilhoso conosco!
Pedro, u que agradeço – a visita e o comentário.
Grande abraço!
Que coisa mais linda! Adorei conhecer e quanta cor!
É verdade, Corina, muita cor nesse cemitério, nem dá pra gente ter medo…rsrsrs
Obrigada pela visita!
Beijo
Esse cemitério deveria ser exemplo no colorido para os outros. Assim deixaria de ser um lugar sinistro.
Achei super interessante.
Gimena,
É muita criatividade, não é? Também acho um exemplo a ser seguido!
Que lugar lindo, realmente não existe tristeza nesse cemitério, há uma alegria com histórias cheia de cor. Ficaria feliz se aqui tivesse um desse.
Sandra, parece que em tabaiana também existe um, não exatamente, como esse, mas com coisas diferentes…
Quero ir lá para conferir.
Nossa, que interessante saber dessa super atração turistica na Romênia. Nunca tinha ouvido falar, mas o Cemitério Alegre, em Sapanta, Romênia, é bem intrigante. Achei sensacional os epitáfios. E ainda que a gente não saiba o idioma, os desenhos realmente dão uma ajudinha pra entender. Adorei.
Deyse, é interessante, mesmo. A gente gostou muito de conhecer esse cemitério. E eu recomendo a todos!
Nunca pensei em desejar conhecer um cemitério, e muito menos que ele se chamaria cemitério alegre. Que trabalho lindo. Uma reinvenção, adoraria ter um trabalho assim na minha lápide… E conhecer esse cemitério também…kkk
Norma,
A gente também ficou encantada com o trabalho desse escultor.
O cemitério é incrível e, com certeza, vale a visita.
Amei conhecer !!! Eu já gosto de passear museus ! É um lugar p o silêncio, a refelxão, e a observação . Um lugar de paz e descanso e muitos têm obras de artes lindíssimas. Esse museu é bem exótico. Amei
Adriana, esse cemitério é um arraso!
A gente adorou conhecer!
Bem interessante e inusitada forma de encarar a morte…. É uma maneira de promover a continuidade existencial dos que partem, de forma alegre amenizando sua ausência. Parabéns pelo roteiro visitado e por nos trazer conhecimento da cultura daquele povo !
Adelina,
Eu que agradeço as suas palavras, a sua visita e a sua assiduidade.
É um lugar bem diferente, né? Eu sempre quis conhecer desde que ouvi falar, na minha adolescência.
Grande abraço!
Muito interessante. Gostei!
Heuler, é diferente, né?
A gente também gostou.
Beijo!
Soninha, suas matérias estão me deixando apaixonada pela Romênia. E eu nunca tinha pensado em ir até lá. Esse Cemitério Alegre é demais!
Sylvinha, a Romênia é um país apaixonante! Lindo demais e muito interessante!
Recomendo a todos!
Eu nunca fui das que visitam cemitérios, seja para turismo seja por motivo de luto, mas que inusitado esse cemitério Alegre em Sapanta! Fiquei curiosa e acho que o visitaria, gostei das imagens desenhadas, a gente pode deixar a imaginação voar imaginando quem foi aquela pessoa.
Juliana,
Esse cemitério é impossível de ignorar. Ele é muito interessante e a gente mais se diverte do que entristece visitando o lugar.
A visita vale a pena!
Achei o cemitério realmente alegre com esse colorido. Uma atração bem interessante.
Lilian, você tem razão. Este cemitério é alegre, mesmo, e visitá-lo é uma programação interessante. Recomendo a todos.